A viagem para Nova York foi rápida, especialmente quando se vai dormindo. Chegamos em Chinatown, próximo a uma ponte que parecia um monumento. O dia estava amanhecendo e a cidade estava extremamente suja. Por toda parte se via restos de comida e bebida, caixas rasgadas e papeis espalhados, como se a pouco uma grande festa tivesse acabado.
Minha primeira impressão foi péssima. Fomos até uma estação de metro, que parecia abandonada. Isso é uma característica que Nova York compartilha com algumas estações de Boston. Em muitos casos, parece que houve uma guerra ali dentro e ninguém veio dar uma ajeitada na coisa.
Nossa primeira parada foi o famosíssimo Central Park. O que mais gostei lá foi o número de pessoas correndo, andando de bicicleta e, especialmente, levando seus cachorros para passear. Era como um evento social. Diversos cachorros acompanhavam seus donos, corriam pelos gramados e paravam para uma prosa uns cons os outros. Depois, corriam alegremente para seus donos, como que para contar as novidades.
Paramos para tomar café numa Starbucks. Como estavamos em um grupo grande, cada movimento para um novo ponto levava uma eternidade. Depois da Starbucks seguimos para a famosa Time Square. Vimos os diversos musicais que estavam em cartaz na Brodway e passamos por duas lojas gigantes da MM e Harshley. Passamos por outra loja enorme, dessa vez da Toys 'R' Us, que tinha dentro um monte de personagens em tamanho real, como o Super Homem, Homem Aranha e até mesmo uma roda gigante que passava pelos 3 andares da loja.
A cidade estava bastante agitada. Paramos em uma espécie de parque para nos reorganizarmos e acabamos indo comer numa pizzaria, que lembrava muito as pizzarias de Bethnall Green. De lá, seguimos para o local onde estava acontecendo o Brazilian Day.
Foi impressionante a quantidade de pessoas que estavam lá reunidas. Alias, 99,9% eram brasileiros. Barracas de pastel, churrasquinho, comida mineira, baiana e tudo o mais se espalhava pela rua interditada. Os estrangeiros do grupo se divertiam. Paramos em um barzionho brasileiro e lá o pessoal tomou Brahma e, juntamente com o nosso amigo russo, uma rodada de cachaça. Ensinamos eles a dançarem forró e todos adoraram. O lugar estava insuportavelmente quente e logo saimos para achar onde estava acontecendo os shows.
Passamos por um pauco secundário onde estava tendo uma apresentação de funk, bastante animada. Poucos metros depois, chegamos a um ponto que mal dava para se locomover. Era o meio de um cruzamento de duas avenidas, iluminado por um telão pelo qual acompanhamos o show do Lulu Santos. Foi um barato explicar as letras para o pessoal, cantar junto com eles e ver toda aquela multidão vibrando e, por um dia, se sentindo em casa! Era impossível se dizer que você estava em qualquer lugar que não fosse o Brasil.
Logo no final do show, me despedi do pessoal. Eu tinha comprado um ticket de ônibus e queria chegar mais cedo no hotel, para poder descansar um pouco. Segui até a estação de metrô indicada no ticket que eu tinha comprado pela internet. O horário estava tranquilo. Eram 17:00 e o ônibus partiria em 30 minutos.
Comecei a perguntar para as pessoas ao redor da estação e tentar descobrir de onde saia o onibus. Cada pessoa me mandava para um lugar diferente e a maioria não fazia a mínima idéia de onde seria o ponto. Perguntei para os taxistas, comerciantes locais e no guiche de informações do metro. Todas as informações eram desconectas! Comecei a ficar preocupado e tive uma sensação de que eu não coneguiria achar o lugar.
Praticamente as 17:25 achei um ponto de saída de onibus para Boston e Pensilvania. Perguntei para um vendedor de cachorro-quente que estava lá se o Megabus saia de lá e ele confirmo. "Ufa!". Porém, dentro de mim não saia a impressão de que alguma coisa estava errada. O onibus não estava lá e sei que eles não costuma atrasar. Minha esperança era de que ele estivesse atrasado. Porém, o tempo foi passando e nada. As 17:40 eu liguei na companhia e, tardiamente, descobri que o local não era aquele, que o próximo onibus só sairia as 21:30 e que, mesmo que eu fosse esperar, teria que comprar uma passagem.
Fiquei desolado. Me senti perdido naquele mundo de gente correndo de um lado para o outro. Pensei em tentar voltar e reencontrar o pessoal, mas tinha certeza que seria absolutamente impossível. Parti então de volta para Chinatown, de onde eu sabia que a cada 30 minutos partiam onibus para Boston.
Chegar até lá foi um trantorno. Eu não sabia o nome da compahia, nem o endereço. Mas, mesmo que soubesse, não faria muita diferença. Minha única referência era a ponte e o monumento. Andei muito tempo, obviamente na direção errada, antes de conseguir achar alguém que me desse uma direção. Não tinha certeza se a pessoa tinha entendido o que eu queria, mas aquela era minha única esperança e segui. Era uma caminhada rumo ao incerto, atravessando uma multidão de estrangeiros por ruas apertadas, mais parecendo que eu estava na 25 de março.
Finalmente consegui chegar na companhia chinesa e comprei meu ticket para as 19:30. O final de tarde, quase escuro, deixou tudo melancólico. Viajei com estranhos e me senti completamente sozinho ali. Tudo o que eu queria naquele momento era um rosto conhecido, uma voz familiar. Paramos no McDonalds, na beira da estrada e eu desci para não ficar sozinho no onibus.
Chegamos em Boston as 23:30. Eu tinha quase certeza que o último trem para Wellesley Hills Station saia a 23:00 e isso me consumia. Corri até a estação de trem e pude ver, para minha total decepção, que realmente não haviam mais trens para lá.
Nesse momento eu fiquei perdido de verdade. Não sabia o que fazer. Não consegui avaliar minhas alternativas. Eu pensei em pegar um taxi, mas isso me custaria uma fortuna. Eu sabia que eu estava longe de Bason, que ficava a mais de 30 minutos de trem. Não queria fazer um gasto que eu tinha me planejado tanto para evitar. Já eram quase meia noite e, mesmo que eu fosse tentar pegar o metro, era incerto que eu conseguisse chegar em agluma estação próxima de Babson. E, mesmo que eu chegasse, estaria num lugar novo e completamente perdido.
Liguei para a Carol. Assim que ela atendeu, minha garganta fechou e meus olhos se encheram de lagrimas. Mal conseguia falar. Expliquei o que tinha acontecido. Conversar com ela naquele momento me acalmou um pouco e a solução que ela deu foi a mais simples e direta: pegue um taxi daí mesmo. Ela disse que não importava o quanto fosse sair, que o importante era que eu chegasse bem no hotel.
E foi o que eu fiz. Parei o primeiro taxi que encontrei e conversei com ele. Disse que eu estava com 60 dolares e perguntei se ele poderia me levar, por aquele valor, até o Babson College. Eu sabia que a corrida do aeroporto até Babson saia por 55 a 60 dolares e que, provavelmente, estavamos a uma distancia menor. Minha preocupação era com relação a algum tipo de preço especial por ser madrugada.
O taxista concordou em me levar por 50 dolares. Fiquei muito mais tranquilo. ASsim que ele começou a andar, notei que ele não ligou o taximetro. Eu perguntei para ele o porque e ele disse: "Como assim?". Então eu falei: "Ah tah, você vai fazer a viagem por 50 dolares?". Ele concordou.
Andamos uns 15 minutos e ele parou na frente do Boston College. Naquele momento eu entendi o que estava acontecendo. Ele achou que ia ganhar os 50 dolares mais fáceis da vida dele, me levando da estação de trem até o Boston College. Eu expliquei pra ele que não, que o lugar que eu estava indo era o Babson College, que ficava em Wellesley. Ele ficou meio sem graça e pegou a estrada novamente. No caminho, ele foi parando vários taxistas para pedir informações de como chegar lá. Ele não fazia a mínima idéia. Nem eu!
Sei que rodamos por duas horas e só chegamos porque encontramos um cara que praticamente nos guiou até a porta de Babson. Chegando lá ele resmungou um pouco, mas eu enfatizei que eu não tinha como pagar mais. Como ele nem tinha ligado o taximetro, ficou por isso mesmo.
Assim que eu adentrei o salão, encontrei o grupo que estava comigo em Nova York. Eles sairam de lá no onibus das 22:00, levaram só 3:30 pra chegar em Boston e pegaram um taxi que levou 30 minutos para deixá-los no hotel.
Pelo menos cheguei lá. Liguei novamente para a Carol, que a essa hora já estava super preocupada pois esperava que eu levasse uns 30 a 40 minutos para chegar e, depois de 2 horas, não sabia o que poderia fazer do Brasil para saber o que estava acontecendo. Tudo resolvido, fui dormir.